Oi gente,
Quero agradecer a todos os carinhos que deixaram aqui pra mim, os e-mails e toda a força que estão me dando, realmente está muito difícil pra mim me segurar nesse momento, a dor está muito grande e está me faltando concentração no momento.
O que vou fazer agora é uma coisa que eu devia ter feito com ela viva, mas ficamos atolados com o trabalho, com os compromissos do dia a dia que nos esquecemos do que realmente importa que é dar valor a quem merece e está do nosso lado.
Vou resumir a história de vida da D. Cleide minha mãezinha guerreira, meu sogro era maravilhoso, mas infelizmente se entregou para a bebida e judiou muito da minha sogra e ela teve que criar três filhos sozinha e ainda cuidar do meu sogro até o último dia de vida dele com toda dedicação e amor que alguém daria para um filho, mesmo ela tendo passado tudo que passou.
Cuidou como filho dos sogros e cuidou de todo mundo que vi, até quem roubava ela, ela ainda ajudava.
Sustentou seu filho mais velho e sua nora até seu último respiro, não deixando nada faltar para nenhum dos dois! NUNCA! Principalmente amor e auxílio.
Ela cuidou de mim como ninguém da minha família jamais tinha feito, minha mãe era bipolar e eu que cuidei dela desde os meus 4 anos que foi quando minha mãe tentou se jogar de uma ponte me jogando junto com ela.
Quando ela saiu do hospital e eu descobri que ela estava viva fiquei desesperada e quis voltar para casa, porque se ela tentasse de novo, não ia ter ninguém que a impedisse.
Minha mãe morreu quando eu tinha 16 anos e de lá pra cá morei sozinha e me virei, meu pai sempre me ajudou financeiramente, mas nada além disso, com essa dor que estou sentindo, ele apenas me mandou um e-mail se quer um telefonema e prefiro parar por aqui!
Quando conheci minha sogra ela me acolheu em sua casa e em seu coração desde sempre, eu namorei com meu marido apenas duas semanas, nos conhecemos na Internet e após duas semanas de namoro ele veio morar comigo e após três anos nos casamos de verdade, a alegria no olhar da minha sogra no dia do meu casamento foi encantador.
Ela brincava que tinha levado o filho dela pra passar o fim de semana fora e nunca mais devolvi.
Parecia que ela estava casando novamente, como cuidou de mim, se eu saia de casa e não ligava quando chegasse ela não dormia e se eu esquecesse de ligar era a maior bronca e eu adorava aquilo, porque ela não tinha obrigação nenhuma de cuidar ou gostar de mim e ela fazia isso!
Quando meu filho nasceu eram duas da manhã, ela tinha dificuldade pra andar, mas correu para o hospital e foi a mão dela que segurei nas minhas contrações!
Foi pra casa dela que fui quando saí da maternidade, ela me ligava toda hora e antes de perguntar do filho dela, meu marido, ela queria saber do meu filho e depois de mim, como pode tanto amor?
Todo sábado e domingo era na casa dela, passávamos o dia todo lá, quando chegava ela já desmontava tudo para o meu filho fazer o que queria.
Forrava mesa para meu filho pintar tudo, fazia várias comidas gostosas, normalmente as minhas preferidas, porque como tinha ciúmes dela ela fazia primeiro as minhas vontades e depois as dos outros, brincava de massinha com meu filho, cortava papel com ele, comprava várias porcarias pra ele comer e falava pra ele comer tudo que tinha chocolate no esconderijo que desde muito pequeno ele sabia onde era.
No meio das mesinhas dela que aparece no vídeo.
Adorava brincar de massinha com ele, faziam pizza e muito bolinho, até comprei um brinquedo de massinha pra fazer pizza que nem deu tempo dela ver.
Ela pegava velinha de aniversário e depois que montavam o bolinho de massinha, brincavam de cantar parabéns.
Ela ensinou muita coisa pra ele e depois que ele repetia ela me mostrava olha, olha fui eu quem ensinou, só eu ensino coisas pra ele e ria com isso.
Ensinou batatinha quando nasce, ensinou a falar bem feito, bem feito, ensinou meu filho a amar e ensinou tudo que podia pra ele, o mundo dela era a gente.
Meu cunhado que morava com ela, falava que os únicos momentos que ela ria, era quando estávamos lá, ela sempre deu muito amor para todos nós, mas carinho e beijos ela só pediu para o meu filho, nem para os filhos dela, ela pedia.
Vivia contando as histórias do meu filho pra todo mundo e repetia tudo um milhão de vezes, como se tivesse sido a primeira vez.
Quando eu ia montar o prato de comida do meu filho, ela queria fazer, porque achava que eu deixava a comida sequinha e por isso ele não ia comer bem e quando ele comia o prato que ela fazia, era de lamber os dedos e comia tudo e ela falava, tá vendo é porque deixei molhadinho, era fofo demais o quanto ela se importava.
Ela me pediu para comprar um cofrinho porque queria juntar moedinhas para o meu filho, levei o cofrinho pra ela e isso virou uma nova brincadeira entre eles, tirar e colocar moedinhas no cofrinho, vivia me pedindo para pegar a bolsa pra eles colocarem mais moedinhas.
Depois que ela quebrou o fêmur e foi por causa disso que ela foi embora desse mundo, ela precisou usar fraldas e mesmo assim, ela brincava com meu filho, levantava a camisola e falava:
Quem é que usa fralda Rafael? É você ou a vovó? E ele apontava pra ela e falava você vovó e ela dava risada com isso.
Quando sentia dor comigo perto segurava porque sabia que se eu ouvisse ela sofrer ia desmaiar.
Como viver sem tudo isso? Como chegar aos fins de semana e saber que não estarei com ela e nem meu filho.
Quem vai me ligar pra brigar comigo porque não avisei que cheguei? Quem vai me dar o carinho que só ela sabia dar?
Quem vai olhar para o meu filho com a ternura no olhar que só ela conseguia ter?
Ontem fui na casa dela e como foi difícil, meu cunhado pediu pra eu pegar o que eu queria e corri pra pegar um telefone de menina que ela me deu quando quebrou a perna e disse que era pra eu dar para minha filha se eu dia eu tivesse uma menina, peguei também a tesourinha que ela usava pra brincar com meu filho de cortar papel e depois ficava um soprando papel picado no outro e dando gargalhadas, com isso achei todas as cartas, convites e cartinhas que fiz pra ela guardados numa gaveta com roupinhas do meu filho de bebê.
Ela guardava tudo! Que sogra que faz isso? Ela não tinha o porquê gostar de mim e me amava! Como uma mãe! Como pode?
Quando viajávamos ficávamos até tarde jogando tranca, uma roubava da outra, comíamos várias tranqueiras durante o jogo e ríamos quando uma aprontava no jogo, as vezes antes de começar o jogo a gente perguntava se ia ser roubando ou certinho.
Todo Natal e Ano Novo era com ela e eu que montava a árvore pra ela, a desse ano ela nem conseguiu ver.
Ela adorava fazer as comidinhas, arroz a grega, carne assada, bolinhos de batata e meu doce preferido o pavê farofinha, ela chegou a comprar os ingredientes desse doce um tempo atrás e foi me mostrar no ármario que tinha comprado pra fazer pra mim e não deu tempo pra nada.
Ela tem mais duas noras, e foi pra mim que ela deu sua coleção de panelinhas, sua máquininha de costura e sua caminha de boneca que ela tem desde quando era criança, ela deu tudo pra mim!
Ela me tinha como filha e me provou isso a cada minuto de vida dela.
Participou de todos os momentos importantes da minha vida, formatura, curso de noivos, casamento, nascimento do meu filho, meus aniversários, Natal, Ano Novo, festas em geral, tudo, tudo!
Me defendia com unhas e dentes e não deixava ninguém falar um nada de mim.
Hoje de manhã levando meu filho de 3 anos na escola, no caminho ele me disse que estava triste, perguntei o porquê e ele falou que estava bravo porque a vovó não saia do hospital, falei que ela estava muito dodói e que amava muito ele, perguntei se ele queria que eu falasse tudo, ele disse não e se fechou, olhei no retrovisor, vi água nos olhinhos dele e uma tristeza enorme naquele rostinho lindo, depois fingiu que estava dormindo para não falarmos mais até chegar na escola dele.
Quando ela caiu, ela olhava pra gente e chorava, dizia que não ia sair dessa, que não pôde curtir o neto e chorava!
Eu fico desesperada aqui, achando que ela pode estar desesperada lá porque não pode mais estar aqui com a gente.
E meu filho? Tadinho, como ele amava ela, hoje chorou o dia todo, me perguntou um monte de vezes se estou feliz e até se o pai está feliz, tadinho, um toquinho de 3 anos vendo a mãe chorar desse jeito e ficar sem avó que é tão querida pra todos nós.
Como lidar com tudo isso?
Ela me ensinou o que é amor, família, união e o que sou hoje devo a ela.
E eu a perdi! Que saudades.